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Vozes da pesca artesanal ecoam por ondas cibernéticas

Conheça o podcast que têm conquistado fãs entusiasmados ao revelar o universo da pesca artesanal do Brasil.

 

27-07-2020
Fonte: 

Assessoria de Comunicação do CPP

Há cerca de três meses um programa de podcast tem promovido uma série de debates sobre as comunidades pesqueiras, os problemas por elas enfrentados, mas também tem revelado o seu modo de vida, numa conversa fácil, acessível e  que tem atraído ouvintes fieis. Produzido pelo Núcleo de Estudos Humanidades, Mares e Rios (Nuhumar), vinculado ao Departamento de Sociologia e ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS) da UFPE, o “Vozes da Pesca artesanal”, como é chamado o programa, está na sua oitava edição e já debateu os mais variados temas. Os impactos da pandemia e do petróleo nas comunidades pesqueiras, carpinteiros navais, juventude pesqueira, entre outros temas, já entraram na pauta.  O programa tem o apoio da Facepe, CNPq, Rede UFPE SOS Mar e do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP).

O objetivo da atração é “ser um espaço de valorização e divulgação da vivência, do modo de vida e das principais questões socioculturais, políticas, econômicas e ambientais que envolvem os pescadores e pescadoras artesanais, com base em seus depoimentos e a partir de uma construção coletiva que conta com a participação do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), das comunidades pesqueiras e dos docentes e discentes ligados ao Nuhumar/UFPE”, explica o sociólogo e professor Dr. da UFPE, idealizador do programa, Cristiano Ramalho. O retorno entusiasmado por parte de pescadores e pescadoras artesanais, de pesquisadores e dos ouvintes em geral mostra que o objetivo tem sido alcançado.

Confira a entrevista do Professor Dr. Cristiano Ramalho sobre o programa logo abaixo!

 

CPP - De onde surgiu a ideia do programa "Vozes da Pesca Artesanal"?

Cristiano Ramalho - Percebemos que, além da publicação de artigos e livros e organização de eventos, era necessário utilizar outros meios, espaços – nas mídias sociais, principalmente - que fossem capazes de dar visibilidade a importância das comunidades pesqueiras em Pernambuco, no Brasil; e que isso fosse feito em parceria com elas, com os movimentos sociais da pesca, as comunidades pesqueiras, no intuito de firmar e afirmar um compromisso da Universidade com os setores populares, embora saibamos que é necessário muito mais.

O programa “Vozes da Pesca Artesanal” é, sem dúvida, uma das formas que o Núcleo de Estudos Humanidades, Mares e Rios (Nuhumar) - vinculado ao Laboratório de Estudos Rurais (Lae-Rural) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) - encontrou para disputar narrativas sobre o mundo da pesca artesanal, tendo os pescadores e pescadoras como sujeitos que relatam suas experiências de vida, de trabalho, seu cotidiano para dentro e fora da Universidade. É também uma maneira de desvelar as condições de existência das sociedades pesqueiras, suas demandas, importâncias, dificuldades, lutas, modos de vida e possibilitar, por meio disso, que a academia e uma nova geração de acadêmic@s possam assumir compromissos teóricos e práticos com os povos das águas.

É, ademais, resultado de ações combinadas entre pesquisa (sobre o mundo do trabalho pesqueiro apoiadas pelo CNPq e a Facepe), ensino (a exemplo das disciplinas Sociologia da Pesca, Sociologia do Trabalho, Sociologia Rural e Meio Ambiente & Sociedade) e extensão, que desenvolvemos através do Departamento de Sociologia (DS), do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS) e do Nuhumar na UFPE e que conta – muita dessas atividades – com a parceria do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP).

A ideia é que o saber-fazer científico esteja em diálogo permanente com o saber-fazer dos homens e mulheres das águas, formando uma sólida aliança, parceria, compromisso; e é isso que desejamos com o “Vozes da Pesca Artesanal”.

 

CPP - Qual o objetivo do programa?

CR - Ser um espaço de valorização e divulgação da vivência, do modo de vida e das principais questões socioculturais, políticas, econômicas e ambientais que envolvem os pescadores e pescadoras artesanais, com base em seus depoimentos e a partir de uma construção coletiva que conta com a participação do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), das comunidades pesqueiras e dos docentes e discentes ligados ao Nuhumar/UFPE.

A ideia também é de: (a) Possibilitar o enriquecimento da formação discente em seus aspectos teóricos, metodológicos e práticas, articulando-os à reafirmação e materialização dos compromissos éticos e solidários da Universidade Pública brasileira com os setores populares; (b) Tornar-se um mecanismo através do qual possa estabelecer-se a inter-relação da UFPE com os movimentos sociais da pesca e as comunidades pesqueiras artesanais, com vistas a uma atuação transformadora ao trazer à tona a realidade viviCristiano Ramalhoda pelos homens e mulheres das águas; (c) Promover o encontro, debate e trocas de saberes (ensino, pesquisa e extensão) entre discentes de várias áreas do conhecimento (ciências sociais, ambientais, comunicação, etc.), e docentes - do DS - e dos mesmos com os sujeitos sociais da pesca artesanal; (d) Estimular a possibilidade de realização de estudos e fortalecer o saber-fazer extensão na UFPE junto ao universo dos pescadores e pescadoras artesanais.

 

CPP - Quem é responsável por realizar o programa, pensar pautas ou fazer a edição?

CR - O “Vozes da Pesca Artesanal” é realizado por docentes e discentes, da graduação (ciências sociais, ciências ambientais, comunicação) e pós-graduação (sociologia), que integram o Núcleo de Estudos Humanidades, Mares e Rios (Nuhumar) da UFPE, contando com a coordenação do Prof. Dr. Cristiano Ramalho (Nuhumar/DS/PPGS/UFPE) e do Prof. Dr. Gilson Antunes (Nuhumar/DS/UFPE) e a parceria da pesquisadora Dra. Andreia Santos (Facepe/UFPE). O roteiro, embora possa ficar sob a responsabilidade de alguns que são escolhidos a partir de interesses temáticos, é sempre discutido com tod@s do Nuhumar. A edição e a locução são realizadas pela bolsista do Nuhumar Lucyanna Melo (aluna do curso de comunicação/UFPE).

O interessante e enriquecedor é que as pautas são trabalhadas coletivamente, onde participam @s integrantes do Nuhumar e do CPP, que muita vezes sugere temas. Também consultamos pescadores e pescadoras não só para propor questões que devem ser abordadas no Vozes da Pesca Artesanal, como para avaliarem os resultados dos programas.

 

CPP - Qual a periodicidade do programa?

CR - O Vozes da Pesca Artesanal é feito quinzenalmente para ser divulgado em Podcast, via whatsapp (meio que é mais fácil de ser difundido nas comunidades pesqueiras), instagram e na Rádio Universitária FM da UFPE (99.9), especialmente por meio do programa “O Redator Comunitário”, do competente e comprometido radialista Roberto Sousa . O fundamental é alcançar as comunidades pesqueiras, alunos(as) e docentes da UFPE e o público em geral, inclusive gestores públicos.

 

CPP - Como tem sido o retorno dos Pescadores e de outros grupos em relação ao programa?

CR - O retorno é o melhor possível. Estamos no oitavo programa e, apenas no Podcast, já tivemos cerca de 1.500 acessos sem falar do que circula através no whatsapp e é transmitido pela Rádio Universitária, onde não temos condições de quantificar o número de ouvintes. Recebemos retornos de pesquisadoras(es) e pescadoras(es) do Brasil, de norte a sul, até mesmo de pessoas e grupos que desconheciam a riqueza do universo da pesca e que começam a entrar em contato com ele a partir do Vozes da Pesca Artesanal. Recentemente, um pescador de Santa Catarina, que tem meu contato telefônico, gravou um áudio e me enviou por whatsapp, quando estava pescando, para dizer que tinha acabado de escutar, por seu celular, um dos programas do “Vozes da Pesca Artesanal” e estava feliz por se sentir representado.

 

CPP - Até quando vocês seguirão com a iniciativa?

CR - Até quando as desigualdades que cercam o universo da pesca artesanal persistirem. O “Vozes da Pesca Artesanal” é uma forma, também, de ajudar a combater essas desigualdades, de enfrentar o racismo e a injustiça socioambiental e as diversas formas de exclusão e violências que as pescadoras e pescadores estão submetidos historicamente, inclusive de expulsão de seus ancestrais territórios de trabalho e morada, de vida. Acreditamos que podemos – sempre em parceria com as comunidades pesqueiras, seus movimentos e o CPP – produzir ações de denúncias e de valorização da imensa e histórica contribuição ofertada pelos povos das águas ao nosso país, ora em termos econômicos e de soberania alimentar, ora em termos culturais, de trabalho e sociabilidade, ora na esfera do sofisticado conhecimento sobre a natureza que possuem. Tudo isso precisa ser reconhecido e valorizado pela sociedade, pela academia, pelas políticas públicas.

 

Para acessar o programa "Vozes da Pesca Artesanal", clique aqui!

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