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A Mística Profética – Marcelo Barros conduz reflexão sobre espiritualidade pastoral

Assembleia Nacional do CPP recebe o teólogo para uma conversa sobre a mística na ação libertadora

09-03-2023
Fonte: 

Assessoria de Comunicação do CPP | Texto e Fotos: Henrique Cavalheiro

Para refletir sobre a missão pastoral e mística do Conselho Pastoral dos Pescadores – CPP, a Assembleia Nacional iniciou a manhã de trabalhos desta quinta-feira (09/03), com a presença de Marcelo Barros, monge beneditino, escritor e teólogo brasileiro, e teve mediação de Paulo Sampaio, secretário de Barros. A roda de conversa se deu após uma mística que enalteceu a importância da preservação das águas e contra o desperdício e convidou todos os presentes a tocarem nos elementos água e terra, símbolo de vida e força da natureza, fundamentais na produção camponesa.

Os palestrantes propuseram que todos os presentes tivessem um momento de troca sobre o que os leva a não desistir da caminhada pastoral entre pescadores e pescadoras. Os participantes lembraram da vida dos territórios e dos povos que não querem deixar morrer a cultura da pesca artesanal. Além da valorização desta atividade com dignidade.

Segundo Marcelo Barros, para a mística não ser fanática é preciso levar em conta a relação com os anseios que vem do povo, sua cultura e dores. Um sinal da terra em relação com o sagrado, uma mística profética. “A nossa esperança e espiritualidade, a nossa opção de luta, não passa apenas por uma análise factual da realidade. A mística também se baseia na realidade das comunidades, não perde este olhar, mas tem uma outra raiz que é própria de cada um”, afirma Barros.

Para Barros, a realidade da conjuntura atual é pesada e negativa, tem seus pontos positivos, mas em sua maioria é um cenário difícil, aí surge a necessidade de as pastorais visitarem a passagem da luta de Davi, jovem frágil e pequeno e Golias, opressor gigante e forte. “Se a gente quiser lutar como o gigante, com as armas do gigante, não vamos nem conseguir levantar do chão. Nossas armas são outras. É o amor pela luta e pela vida”, destaca o monge.

Quando os apóstolos questionaram as palavras de Jesus como muito duras, e que algumas pessoas se retiravam das pregações pela força da palavra de Cristo, o Senhor pergunta aos Doze: “Quereis vós também retirar-vos?”. Então, Pedro diz: “Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens as palavras da vida eterna”, (São João, 6). Segundo Barros, esta mesma indagação de Pedro deve ser feita pelas pastorais, ‘Senhor, para onde iremos nós?’.

O apoio eclesial para as pastorais sociais está cada vez mais raro e complexo. Marcelo pergunta aos ouvintes, “Quantos padres e dioceses apoiam vocês? Somos ou não uma pastoral marginal dentro das esferas eclesiais?”, questiona. Porém, lembra que a Igreja é cada um e cada uma que se compromete com o serviço e com a luta por menos injustiças. “Toda pastoral tem que ser social”, diz o teólogo, pois, segundo Barros, pode haver o risco de ser uma pastoral que está servindo a nada, fechada em si mesma, direcionada a um sentimentalismo que não protege ninguém.

“A nossa mística é a mística da cruz. A pastoral não gosta de sofrer, não é masoquista, mas ela vive a profecia que é sentir o sofrimento que vem da luta e da perseguição dos que não gostam da profecia”, pontua Marcelo.

Outra analogia proposta, foi a do poço, que toda pastoral tem seu poço com águas de sua história, cultura e serviço, onde se experimenta a ligação com Deus da forma que melhor lhe conecta com o sagrado. “Ninguém tira a nossa fé. Beber do próprio poço é não precisar buscar água fora. A própria pastoral tem a água que nos renova e dá vida. Valorizar a mística da gente. A mística profética, a que tem os olhos abertos para as dores dos irmãos”, completa o escritor.

Por fim, Marcelo destaca que a maioria dos católicos do Brasil, infelizmente, não é ligada às pastorais sociais. Por isso, é importante manter a mística própria da pastoral e não buscar em outros “poços” uma água diferente só para se fazer aceito pelos outros. “Não falo de uma nova Igreja, mas de viver nossa fé de maneira mística profética”, pondera. “Uma Igreja para os pobres, dos pobres, com os pobres. A nossa mística é o amor mais profundo. O direito de beber no próprio poço, não me tira a oportunidade de experimentar do poço de outros, que também lutam em outras vertentes, onde também há sabedoria e profecia”, termina Barros.

A Assembleia, com o tema: “CPP: 55 anos de Profecia, Resistência e Esperança!”, ocorre em Recife, até sexta-feira (10/3), e reúne membros do CPP de todas as regiões do Brasil.