Último filme da série ‘Povos da Beira D'água’ estreia dia 21 de agosto, apresenta a luta da comunidade pesqueira e vazanteira pela permanência em seu território sagrado no Norte de Minas Gerais
Por Cláudia Pereira | APC / Fotos: João Victor e Claudia Pereira
A história de luta e conexão com o Rio São Francisco da Comunidade Tradicional de Canabrava será contada no documentário “Povos da Beira D’água – Comunidade tradicional pesqueira e vazanteira de Buritizeiro/Imbiaí (MG)”. O filme, que encerra a série de cinco reportagens especiais da Articulação das Pastorais do Campo (APC), estreia nesta quinta-feira, 21 de agosto, às 14h, no canal do YouTube da APC.
“O rio São Francisco pra mim é vida, sem ele nós não somos nada”, expressa a pescadora Rosimeire Silva. Localizada na divisa dos municípios de Buritizeiro e Ibiaí, no Norte de Minas Gerais, o "Velho Chico" para a comunidade é sagrado. Os moradores da comunidade são guardiões da biodiversidade que os cerca, vivendo em uma relação de cuidado e sabedoria com a "nossa casa comum". Esta vivência é o fio condutor da narrativa, construída a partir da perspectiva dos próprios moradores. "Nós, que nascemos e crescemos às margens do Velho Chico, sempre soubemos que cuidar dele é nosso dever primordial", afirma o Sr. Clarindo Pereira, uma das lideranças do território. Ele frisa que o filme retrata as experiências verdadeiras da comunidade, reforçando que "apesar das dificuldades que todos os companheiros e companheiras atravessaram, o futuro é possível ao avistar a esperança e união”.
O documentário é mais um instrumento na luta da comunidade, que há mais de 20 anos enfrenta conflitos territoriais, perseguições e diversas tentativas de despejo forçado. Ameaçados por processos movidos por fazendeiros, os moradores chegaram a ser despejados há quase oito anos. "Nós queremos é sossego, nós não quer cidade não", desabafa o Sr. Edmar Silva, expressando o sentimento de pertencimento ao território Thiago Valentim, Secretário Executivo da APC, destacou a força dos depoimentos. "Isso nos toca profundamente, porque reflete a luta e a resistência da comunidade, são as pastorais e a própria comunidade que, em seus testemunhos, transmitem a verdade dessa luta de forma muito contundente”.
A produção audiovisual acompanha a mobilização e a resistência de um povo que a todo momento reafirma sua identidade pesqueira e vazanteira. A luta pelo território levou a comunidade a ocupar a sede da Secretaria do Patrimônio da União (SPU) em Minas Gerais no primeiro semestre deste ano. A tensão e a esperança desse período são palpáveis no relato de Solange dos Santos: “Estou muito feliz e animada por esse registro da nossa luta, que apesar das diversas dificuldades, podemos celebrar com essa conquista que o documento dará uma certa tranquilidade”.
A tranquilidade mencionada por Solange tem nome e data. Após uma longa e árdua caminhada de luta, um passo importante foi alcançado. O esforço coletivo da comunidade, apoiado pelas articulações das pastorais e movimentos, especialmente o Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP-MG), alcançou um importante avanço para a conquista do Termo de Autorização de Uso Sustentável (TAUS). O documento representa muito mais que a segurança da posse da terra; é o reconhecimento oficial do território, assegurando o direito ao uso dos recursos naturais e a continuidade de seu modo de vida tradicional.
A estreia do filme acontece em momentos de expectativa para comunidade que aguardava a entrega do TAUS para esta semana (19/08) e foi surpreendida pelo adiamento. A Superintendência da Secretaria do Patrimônio da União em Minas Gerais comunicou que uma nova data será marcada em breve. O processo de concessão do TAUS foi iniciado neste ano de 2025, após reivindicações da comunidade junto à Secretaria do Patrimônio da União (SPU).
A estreia do filme se torna uma celebração desta vitória, um eco do grito de luta que move a comunidade: "No rio e no mar, pescadores na luta! nos açudes e barragens, pescando a liberdade! hidronegócio, resistir! Território pesqueiro e vanzanteiro, Livre!"
A narrativa de todas as cinco reportagens da série é embalada por uma trilha sonora especial e potente. Como um complemento especial à produção, ao final de cada filme, após os créditos, o espectador assiste ao clipe da música “Povos Tradicionais”, do autor e compositor Antônio Cardoso. Ele compôs a canção especialmente para a série e a cedeu para a produção. Além de Cardoso, os músicos André Luiz Souza e Ewerton de Oliveira também compuseram temas exclusivos para o projeto, enriquecendo a experiência e as mensagens do documentário.
Ficha Técnica do Documentário:
Realização: Articulação das Pastorais do Campo/ APC
Produção e Reportagem: Cláudia Pereira | APC e João Victor Rodrigues| SPM
Direção: Cláudia Pereira e Humberto Capucci
Edição e Finalização: Humberto Capucci
Trilha Sonora: Antônio Cardoso, Zé Pinto, André Souza e Ewerton Oliveira
Apoio: Misereor