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Crime Ambiental no Rio Goiana: Mortandade de Peixes e Crustáceos alerta para Poluição

Comunidades pesqueiras são afetadas e pescadores e pescadoras artesanais estão Impedidos de trabalhar diante da contaminação 

25-04-2024
Fonte: 

Texto: Comunicação do CPP / Fotos: Reserva Extrativista Acaú-Goiana 

Pescadores e pescadoras artesanais da Reserva Extrativista Acaú-Goiana, principalmente nas águas do Rio Goiana, no município de Goiana, Pernambuco, enfrentam as consequências de um crime ambiental, o que resultou na proibição da pesca e do consumo de peixes e crustáceos devido à contaminação do Rio por agentes ainda desconhecidos. A tragédia ambiental não só está resultando na morte em massa de peixes e crustáceos, mas também na emissão de um odor nauseante que se espalha pela região. Há especulações sobre a origem desse desastre ambiental, apontando para possíveis despejos de resíduos por parte de indústrias localizadas ao longo das margens do rio.

O pescador Teixeira, que é presidente da Associação dos Catadores de Caranguejo de Caaporã (ACAC), descreveu com preocupação os impactos devastadores que a contaminação do Rio Goiana está causando na região. Ele relatou o início dos problemas no último domingo (21/04), quando pescadores começaram a observar uma quantidade alarmante de peixes mortos nas águas. Segundo Teixeira, a situação se agravou rapidamente, afetando não apenas os peixes, mas também os crustáceos, deixando a comunidade preocupada.  

"Desde domingo que tá acontecendo. Começou na cabeceira do Rio Goiana e desceu até aqui, passando por Caaporã – PB, que é onde estou. Já vai chegando em Acaú e vai desabando na praia, do lado da Paraíba", explicou Teixeira, destacando a progressão do desastre ao longo do rio, afetando comunidades ribeirinhas e alcançando áreas costeiras.

A preocupação com a saúde pública também foi mencionada, com Teixeira relatando que o forte odor proveniente da contaminação está afetando não só os pescadores, mas também os consumidores finais. Ele destacou as medidas tomadas pelas autoridades locais, como a proibição temporária do consumo de peixes e crustáceos, emitida pela prefeitura de Goiana até que a causa da mortandade seja esclarecida.

"O cheiro tá muito forte; os pescadores não tão querendo mais ir para Maré com medo, nem consumir os alimentos. A gente tá aqui vendo o que pode fazer pelos pescadores da unidade de conservação Resex Acaú-Goiana", afirmou Teixeira, demonstrando a determinação da comunidade em buscar soluções para enfrentar essa crise ambiental e proteger os meios de subsistência dos pescadores e pescadoras locais.

Poluição, cheiro forte e impossibilidade de trabalhar

O pescador André Nogueira de Araújo, conselheiro da Reserva Extrativista Acaú-Goiana, expressou sua preocupação diante da crise de poluição que assola a região.

"Estamos passando por um momento muito difícil da poluição que apareceu aqui na nossa área de pesca. Aqui na comunidade está um cheiro muito grande, e os pescadores já estão sentindo falta de voltar ao trabalho, né, de conseguir o seu pão de cada dia", afirmou André.

O pescador cobra por uma ação imediata das autoridades locais, enfatizando a urgência da situação. Ele expressou sua frustração com a falta de resposta efetiva por parte do Secretário de Pesca e Meio ambiente do município de Goiana. Afinal, já se passou uma semana sem a possibilidade de pescar na região.

"A gente foi fazer fiscalização junto com o ICMBio aqui na área e lá a gente constatou os tanques de resíduo de poluição da empresa que a gente suspeita, e na beira do rio, onde tem canos, se chama cano ladrão que derrama no rio, e os tanques estavam todos cheios", acrescentou André, demonstrando a gravidade da situação.

A situação dos tanques de resíduos de uma empresa suspeita, levanta na população local a problemática sobre o destino desses resíduos durante o período de chuvas intensas, alertando para o risco de novos desastres ambientais. Para o pescador, há necessidade de regulamentações mais rígidas e a implementação de medidas para evitar a contaminação dos rios, enfatizando a responsabilidade dos governos na proteção do meio ambiente e no apoio aos pescadores afetados.

"Eu falei com o secretário, perguntei quais são os recursos da secretaria para nos ajudar numa pequena cesta básica até as coisas voltarem ao normal, e a natureza se recompor. E assim, ele disse que ia ver junto com a Secretaria de Ação Social o que é que faz, mas estou vendo que as coisas estão muito difíceis." concluiu André, expressando sua preocupação com a situação econômica dos pescadores e pescadoras e a incerteza em relação ao futuro.  

O CPP denuncia a recorrência anual deste crime ambiental

Para o secretário-executivo do Conselho Pastoral dos Pescadores - Regional Nordeste II, Severino dos Santos, está sendo recorrente o crime ambiental na bacia do Rio Goiana durante os meses de abril e maio de cada ano. O agente de pastoral aponta as usinas de cana-de-açúcar, responsáveis pela produção de etanol e açúcar, como possíveis causadores desse problema, pois aproveitam o período chuvoso para descartar os rejeitos da produção, conhecidos como vinhaça, nas águas do rio.

"Todos os anos, nesse período, acontece esse crime ambiental na bacia do Rio Goiana", afirmou Severino, ressaltando a persistência do problema. Ele apontou que, embora as agroindústrias da região possuam sistemas de tratamento e aproveitamento dos rejeitos, esses desastres continuam ocorrendo.

Em relação às usinas localizadas na bacia dos Rios Capibaribe-Mirim e Tracunhaém, que deságuam no Rio Goiana, Severino mencionou que todas possuem sistemas de armazenagem, tratamento e distribuição para irrigação. No entanto, Severino observou que os canais de irrigação saem muito próximos ao leito do rio, o que pode contribuir para a contaminação.

"Outra questão é que, nesse período, ocorre a desova do camarão de água doce, um produto caro do qual muitas mulheres dependem para sua subsistência. Essa desova geralmente se inicia no final de maio e junho. Com a morte desses crustáceos, não haverá a produção", destaca. Isto terá forte impacto negativo na subsistência para muitas famílias.

Ao comentar sobre a falta de ação da prefeitura para mitigar os impactos nas comunidades pesqueiras, Severino criticou a inação das autoridades locais. Ele destacou a presença das equipes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) responsável pela gestão da Resex Acaú-Goiana, e da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) em campo, mas lamentou a falta de divulgação sobre a origem da poluição até o momento.

"Como garantir a soberania alimentar das comunidades pesqueiras? São 06 comunidades, mais de 1300 famílias beneficiárias diretas da Resex Acaú-Goiana", questionou Severino, ressaltando a importância de medidas urgentes para proteger os meios de subsistência das comunidades afetadas.

Nota oficial da prefeitura

A Prefeitura de Goiana emitiu uma Nota Oficial na terça-feira (23) em resposta à preocupante situação no Rio Goiana. De acordo com o comunicado, uma equipe técnica foi enviada ao local para coletar amostras para análise. Além disso, foi feita uma recomendação para que a população evite o consumo de pescados do rio e o contato com a água contaminada. No entanto, a nota não aborda as medidas específicas para auxiliar os pescadores e pescadoras que já estão impossibilitados de trabalhar desde domingo (21).

Enfatizando a natureza temporária e preventiva das medidas adotadas, a nota destaca o compromisso da administração municipal em lidar de maneira abrangente com as questões sociais e ambientais decorrentes desse incidente. Entretanto, enquanto aguardam por respostas e assistência, os pescadores e pescadoras artesanais da região cobram por medidas concretas de apoio por parte das autoridades.

Leia a nota na íntegra:

Nota Oficial

 Recebemos uma denúncia, ontem 22/04/24, referente ao aparecimento de grande número de peixes mortos no trecho do Rio Goiana. Nossa equipe técnica foi imediatamente ao local e fez uma navegação até as três bocas, avaliando toda a situação, foram coletados alguns exemplares de animais mortos para análise, bem como amostras da água. Acionamos a CPRH já que outros municípios também foram afetados. Até que seja identificada a causa da morte dos animais, solicitamos que não consumam nem comercializem os capturados vivos ou mortos, bem como evitem contato com a água deste corpo hídrico. 

 Estamos tomando todas as providências no tocante às questões sociais e ambientais. 

 Secretaria municipal de agricultura, pesca e meio ambiente 

 

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