Defender a Democracia é luta de todo dia. Articulação do Grito realiza mobilizações em todo o Brasil durante a Semana da Pátria, fazendo o contraponto ao 7 de setembro e fortalecendo o plebiscito popular por um país mais justo
Por Cláudia Pereira| Cepast – CNBB
Na tarde de 2 de setembro, foi realizada a coletiva de imprensa da 31ª edição do Grito dos Excluídos e Excluídas, que este ano adota o lema “Cuidar da Casa Comum e da Democracia é luta de todo dia”. O movimento, que tradicionalmente ocorre em todo o Brasil durante a Semana da Pátria, com especial ênfase no dia 7 de setembro, se apresenta como um contraponto às comemorações oficiais da Independência, ecoando as vozes das populações da cidade, do campo, das florestas e das águas.
Com o grito que tem reverberado nos últimos anos, de “Vida em primeiro lugar”, a edição deste ano reforça a interconexão entre justiça social, ambiental e a participação democrática. A iniciativa, que tem suas raízes na 6ª Semana Social Brasileira, destaca a urgência do cuidado com o meio ambiente, a “Casa Comum”, e a defesa da democracia como valores inegociáveis.
Dom José Valdeci Santos Mendes, presidente da Comissão para Ação Sociotransformadora (Cepast- CNBB), reforçou a importância de cuidar da casa comum e da democracia, ressaltando a conexão entre as comunidades indígenas, quilombolas e periféricas na luta por direitos e proteção ambiental. “As comunidades tradicionais e os povos originários enfrentam ameaças que afetam a todos”, afirmou. Ele também mencionou como uma das graves preocupações, um dos ataques que predomina principalmente nos estados do Maranhão e Ceará, além de outras regiões do país: a pulverização aérea de agrotóxicos, que acabam sendo uma arma química contra os povos.
Dani Hohn, da Coordenação Nacional do Grito, enfatizou que o movimento busca conscientizar e mobilizar a sociedade diante das crises atuais, marcadas por desafios socioambientais, e que as soluções devem partir do povo trabalhador, não das elites. “O lema deste ano é central, especialmente em um momento de ataques à soberania nacional”, comentou a coordenadora citando a necessidade de mobilização popular.
Coletiva de imprensa sobre o 31º Grito dos Excluídos e Excluídas.
Plebiscito Popular por país mais justo
O destaque deste ano é o apoio para o Plebiscito Popular que visa unificar diversas iniciativas em defesa da soberania e dos direitos. Paulo Henrique, da Secretaria Executiva do Plebiscito, explicou que a consulta aborda temas importantes, como a taxação de grandes fortunas e a redução da jornada de trabalho sem corte salarial. A proposta questiona se quem ganha mais de R$ 50 mil mensais deveria pagar mais impostos para que a faixa de até R$ 5 mil seja isenta do Imposto de Renda.
Paulo apontou principalmente sobre o questionamento que se refere a redução da jornada de trabalho. “Precisamos falar sobre essa odiosa escala de trabalho 6×1. Essa escala tem afastado pessoas de suas famílias, dos estudos, impondo um processo muito duro de trabalho e dificultando o desenvolvimento das potencialidades enquanto ser humano”, enfatizou Paulo.
Mobilizações em todo país
Representantes das regiões Sudeste, Norte e Nordeste compartilharam os preparativos para as manifestações do “Grito dos Excluídos”. Os atos ocorrerão em todo o país ao longo desta semana, com concentração principal no domingo, 7 de setembro. Em Belo Horizonte (MG), Jair Gomes informou que a programação está sendo construída há meses e praticamente o primeiro Grito começou há quase um mês com a realização do seminário que aproximou movimentos sociais e centrais sindicais.
Em Belém (PA), que sediará a COP30, o Grito aproveitará a visibilidade do evento global para pautar o racismo e a justiça climática. Francisco Batista, articulador local, lembrou que o Grito ocorre na cidade desde 1998, que fortaleceu a denuncia sobre o massacre de Eldorado dos Carajás.
Em Pernambuco, Sandra Gomes relatou que a organização começou em fevereiro, com vários pré-gritos e seminários, e destacou uma colaboração mais estreita com os povos de terreiro neste ano. A mobilização em Recife pautará a soberania nacional, a denúncia do genocídio palestino, a luta contra a devastação ambiental e a oposição à privatização do metrô da cidade, entre outros temas.
Na capital paulista, a concentração ocorrerá no domingo (7), com uma programação que se inicia às 7h, oferecendo um café da manhã para pessoas em situação de rua na Praça da Sé.
Em Curitiba (PR), o ato acontecerá no mesmo dia, a partir das 14h30, no Território Indígena Kogûnh Jamã (antigo Parque do Mate), localizado às margens da BR-277, na Rondinha, em Campo Largo. No local, também haverá arrecadação de alimentos para doação.
Já na região Centro-Oeste, em Cuiabá (MT), a concentração para o ato de 7 de setembro começará às 7h30, na Praça Cultural do Jardim Vitória. A abertura oficial está marcada para as 8h30, seguida por um ato público com música, arte, alegria e resistência, que será encerrado com uma caminhada até a Praça do Verdinho, na Avenida do CPA.
A parceria entre o Grito dos Excluídos e Excluídas e o Plebiscito Popular se fortalece mutuamente, uma colaboração que remonta à década de 1990. Nesta primeira semana de setembro, as ações e atividades se intensificam em todos os estados brasileiros. Fortalecendo para além do contraponto à celebração oficial do Dia da Independência do Brasil. As mobilizações não se limitam ao dia 7 de setembro, o momento visa engajar a população na luta por Vida, Democracia e Direitos Humanos.
Encerrando a coletiva, Dom Valdeci conclamou à união e à esperança na luta por dignidade. “Sonho que se sonha só é sonho, mas sonho que se sonha junto é sinal de solução. Vamos juntos sonhar para buscar a libertação, para buscar a vida e vida com dignidade”, finalizou.
Veja aqui a coletiva na íntegra: